O Universo de Nelson Rodrigues nada tem de fantasioso. E, tampouco, é datado, encarcerado em determinada época. Basta um olhar desarmado para perceber que as relações humanas são exatamente as mesmas. Os códigos de ética e valores morais variam, mas a complexidade do ser humano não. De Shakeaspere a Nelson o instinto humano é atemporal. Em Perdoa-me por me traíres estão presentes diversos dos polêmicos elementos rodrigueanos: virgindade, incesto, ciúmes, traição, morte, fraqueza, canalhice, corrupção e pedofilia. O texto desmascara a hipocrisia: mostra uma família aparentemente como qualquer outra família suburbana, que preza manter uma imagem ilibada perante a sociedade. Por trás da fachada de retidão, emergem paixões e desejos incontroláveis. Como uma infiltração, gota por gota, esses desejos vão corroendo o concreto e manchando as paredes do núcleo familiar. Essas manchas estão mais próximas do que imaginamos. Por trás das cortinas da vida cotidiana, escondem-se os mais sórdidos impulsos reprimidos.
A metáfora para essa montagem era essa infiltração, que corrói por dentro das paredes da casa, a mancha que aumenta, até virar um tumor. A meta para o processo dessa montagem foi desnudar o submundo da alma de cada um dos personagens.
Direção de Michelle ferreira, ano de 2008.